terça-feira, 25 de março de 2014

Vacinação contra o HPV traz esperança e questionamentos em torno da prevenção contra o câncer de colo do útero.

Esperança e questionamentos marcam a inclusão do Brasil, a partir da próxima segunda-feira, no crescente clube de países que estão adotando a vacinação maciça de meninas como forma de prevenir o HPV.

Somente no Rio Grande do Sul, a meta é imunizar 258 mil meninas de 11 a 13 anos contra o vírus causador do câncer de colo de útero, o terceiro mais frequente no país.


Como a recomendação clínica é aplicar a vacina preferencialmente antes do início da vida sexual, a vacina será mais uma das estratégias de reforço à prevenção. Para facilitar a administração, as injeções serão feitas nas próprias escolas, tanto na rede pública quanto na privada, em calendário escalonado que se estende até 10 de abril. Até então, as doses só estavam disponíveis em laboratórios privados, a um custo de cerca de R$ 300 por aplicação — sendo que a recomendação tradicional são três doses para garantir a proteção. Apesar do alto custo, a procura é grande. Em uma clínica da Capital, a imunização de HPV representa 50% do total de vacinas aplicadas mensalmente, abrangendo pessoas de nove a 50 anos.


Ao mesmo tempo em que é aprovada pela Organização Mundial da Saúde, saudada por pesquisadores e adotada em outros países como Canadá, Estados Unidos, México e Austrália, a vacinação não está imune a críticas. Relatos de efeitos colaterais adversos, como casos de infertilidade e falência ovariana, chegaram a provocar a suspensão da vacina em países como o Japão. Além disso, a vacina só protege contra quatro tipos de HPV, enquanto existem mais de cem deles.


No Brasil, uma das instituições que se posicionou contra a estratégia foi a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, que divulgou carta questionando a segurança e a eficácia do procedimento. No texto, afirma que a vacina "expõe adolescentes a risco de supermedicação desnecessária".


— Não há evidências de que a vacinação seja mais eficaz que a estratégia atual, que utiliza o rastreamento por meio do Papanicolau, no exame ginecológico — preocupa-se o diretor da Sociedade, Ademir Lopes, temendo desmobilização em relação ao exame tradicional.


Os argumentos são contestados por um dos pioneiros das pesquisas sobre o HPV no país, o professor de ginecologia da faculdade de Medicina da UFRGS Paulo Naud, consultor da Organização Mundial da Saúde.
— A vacina tem se mostrado até hoje segura e eficaz. Agora a mulher tem a chance de ter uma vacina contra uma doença que é um problema de saúde pública — entusiasma-se.
A importância da prevenção é reforçada pela Secretária Estadual da Saúde, Sandra Fagundes, lembrando que a vacina não dispensa a realização de outros exames preventivos.
— A vacina foi adotada pela rede pública porque está comprovado que previne o HPV. Entre os efeitos adversos e o grau de proteção, é muito maior o grau de proteção — argumenta.

Vacina é aplicada em três doses:
Com a campanha deflagrada a partir da próxima semana, o Estado vai difundir uma prática já adotada pelo município de Farroupilha. A cidade da serra gaúcha foi precursora no ano passado, oferecendo a vacina contra o HPV em todas as escolas, para meninos e meninas de 12 e 13 anos. A campanha, que começou introduzindo o tema nas aulas de biologia e em palestras para os pais, atingiu 90% de cobertura. Nenhum caso de reação adversa foi notificado.

— Com o trabalho que foi feito antes, as pessoas entenderam a importância da vacina — resume a coordenadora operacional da Secretaria da Saúde de Farroupilha, Tatiane Crippa.

A previsão do Ministério da Saúde é oferecer a segunda dose em seis meses para as meninas vacinadas a partir da próxima semana, e a terceira, daqui a cinco anos. A infectologista do Rosana Richtmann, que representa a Sociedade Brasileira de Infectologia no comitê técnico assessor de imunizações do Ministério da Saúde, explica que o Brasil optou pela aplicação da terceira dose da vacina após cinco anos no intuito de ampliar a cobertura para três faixas etárias (11, 12 e 13 anos), aumentando assim o número de meninas imunizadas.

— Nos próximos cinco anos, serão feitos estudos para avaliar a resposta imunológica das meninas vacinadas. Conforme os resultados, a terceira dose poderá até ser descartada, mas isso teremos de avaliar futuramente — explica a médica.


Segundo Rosana, relatórios internacionais têm apontado que a resposta imunológica das adolescentes que receberam as duas primeiras doses é semelhante à das que receberam três. Suíça, Colômbia, Canadá e México seguem o calendário adotado pelo SUS.

Apesar da oferta feita pela rede pública nas escolas, ninguém será obrigado a ser vacinado. Pais que não quiserem que suas filhas sejam vacinadas poderão assinar um termo de responsabilidade manifestando sua preferência.
Fonte: Diário Catarinense.

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